segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sobre "boca aberta" e inconvenientes.

É inconveniente morar em um país de 180 milhões de pessoas, onde a maioria delas é analfabeta ou semi analfabeta. È inconveniente morar em um país que manipula esses dados, e considera como alfabetizado o cidadão que escreve apenas o próprio nome. Mais sejamos realistas, o inconveniente não é a pessoa analfabeta e sim as relações de poder e dominação que asseguram que o mecanismo do analfabetismo perpasse séculos após a colonização.

É inconveniente morar em um país que se julga livre, enquanto se mantém acorrentados as mazelas do sistema internacional, seguindo normas e regras que o servem apenas para cada vez mais nos distanciar de um futuro promissor. Isso é partindo do pressuposto que coisas desse gênero ainda possam existir em nosso mundo. O fato é simples, é foda.

Foda é dar duro, acordar cedo, ler dezenas de livros, passar 5 anos na faculdade (se privada pior ainda) escrever textos preparar aulas, acreditando que o futuro do país passe diretamente por uma educação de qualidade e para todos. Sabendo que a maioria das escolas encontra-se sucateadas, sem materiais adequados, sem recursos audiovisuais.

Mais como nada é tão ruim que não possa piorar, as coisas pioram. Pioram quando a escola está inserida numa comunidade que não a valoriza, que não faz a sua parte. Simplesmente larga seus filhos a responsabilidade da escola e dos professores. O que por si só já é problemático torna-se pior quando o estudante não reconhece seu papel como estudante. Coisa típica de países sub desenvolvidos.

Agora o que de fato é inconveniente quando se mistura todos esses problemas enumerados acima com um Estado que é omisso. Um Estado que cria leis que legitimam a ação de pessoas mal intencionadas, criminosos de todas as espécies e para além disso, obriga a escola a aceitar todos os alunos que querem estudar. Opa! Errei desculpa, vamos tentar novamente. Obriga a escola a aceitar todas as pessoas, mesmo as que não querem estudar e vão para lá apenas para avacalhar. São os populares “boca aberta”.

O “boca aberta” é um aluno que não vem de um estrato social distinto, podendo ser das classes mais altas como das classes menos favorecidas. O que o distingue dos demais é a ausência de noção de futuro, ou o simples fato de querer ferrar com tudo. Esculhambando assim o trabalho da escola, com o desenvolvimento intelectual e cultural dos demais alunos e, (agora sim muito inconveniente) contribuindo com a permanência de políticos “boca abertas” no poder.

Mais uma eleição está chegando, novos políticos viram, dinossauros permaneceram, “bocas abertas” de todas as espécies estarão à solta. O que não muda vai ser a escola mesmo. E se a escola não mudar, o resto continuara como está. Está na hora da sociedade devolver o papel que a muito foi tirado da escola, e reconhecer que a educação não é um gesto de amor como queria Paulo Freire e outros pedagogos, mais sim um ato político, de responsabilidade e poder (empoderamento), que deve ser atribuído a pessoas que estejam interessados nisso, que valorizem o futuro e corram atrás dele. Mesmo por que a escola não pode ser encarada como uma prisão. Enquanto obrigarmos todos a permanecerem na escola, a educação brasileira só vai piorar. Escola é para pessoas responsáveis e não para “bocar aberta”.

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